segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Capítulo 25

 


    Os Avalugg ficavam para trás e o navio já entrava no território de Blazeflügel, a fervorosa ilha ao leste de Argentia, como Brycen os descreveu. Não é a primeira vez que o trio viajou até a ilha em suas vidas, mas deixar os casacos de lado e sentir o clima tropical, vendo os Mantine sobrevoando as embarcações, era definitivamente divertido. 

 — Wheeea! — Weavile acenou para um Mantine que saltou até a beira do navio para cumprimentá-lo.

 — Beeear... — Já Beartic salivava vendo alguns Remoraid que acompanhavam os Mantine.

 — Nós já estamos quase chegando! — Khoury não tirava os olhos do mar, fotografando os Pokemon com o celular. Michiyo, que praticava girando seu cajado, parou e debruçou-se nos limites do navio, olhando o mar ao lado dele.

 — A última vez que deixei Blizzfalt foi para ficar mais forte e me tornar uma boa líder de ginásio para Wind. Parece que estou fazendo o mesmo... — disse, erguendo a cabeça para o horizonte. Seus cabelos balançavam com o vento.

 — Mas dessa vez você tem amigos do seu lado! — Khoury guardou o celular, sorrindo.

    Corada e também sorrindo, Michiyo estendeu a mão para trás, onde Lyon devorava o sorvete derretido de um grande pote. Com um empurrãozinho de Mawile, ele se levanta e segura na mão da garota. Os três observam a ilha se aproximando, cada um com suas motivações em mente.

 — O Moltres Matsuri será em alguns dias. Se Brycen estiver certo, é o próximo alvo da Team Turbo... — disse Lyon, erguendo a cabeça.


 — Sinto que as respostas estão se aproximando, vamos solucionar esse caso e eu me tornarei um G-Fuel!

 — Wheaaa! — Com Beartic abraçando sua cintura, ele tinha os braços abertos na ponta do navio.

    Mawile, com as mãos na cintura, balançou a cabeça entre risadas dos dois. Michiyo e Khoury também riram e Lyon observou seu reflexo na água, aflito.

Pokémon Break - Segunda Parte

    O navio atracou no porto e o trio desceu junto com seus Pokemon. Mawile reparou em pichações por todos os lados e poucas pessoas transitando ali. A maioria dos homens vestiam coletes brilhantes, sem camisas por baixo, e calças rasgadas, enquanto as mulheres usavam óculos extravagantes e camisetas de alça fina, com shorts também rasgados.

 — Não passo por aqui há muito tempo — disse Khoury, acenando para alguns Nickit que rosnaram em resposta e correram para atrás de caixotes. — Sempre achei Gangown bem agradável de se visitar.

 — Você é esquisitão mesmo, essa cidade tem uma reputação pior que a da Michiyo.

 — Você não está muito melhor do que eu não, senhor desprotege cidades e perde ginásios... — A garota rebateu e Lyon preferiu se calar.

 — Mas pronto, nosso trajeto é simples. Precisamos cruzar a cidade e depois atravessar a colina para chegarmos em Fervent City, onde vai acontecer o Moltres matsuri — disse Khoury, gesticulando enquanto Michiyo, Lyon e os Pokemon pareciam derreter.


 — Simples? Isso vai levar uma vida inteira...


 — Se conseguirmos um carro será mais fácil. Eu usaria o meu, mas alguém fez o favor de desaparecer com ele.

 — Olha, Lyon, eu estou tentando ser legal com você, mas se tem algo para me dizer, por que não diz logo? Acha que é alguma coisa comparado ao tempo que ouvi a minha cidade jogar na minha cara que não gostava de mim?

 — Gente, gente... — Khoury se enfia no meio dos dois. — A ideia de um carro não é ruim, quanto antes chegarmos, melhor. Vamos perguntar para as pessoas daqui, elas vão nos ajudar.

 — Tá... — Michiyo cruzou os braços.

 — Tá. — Lyon também fez o mesmo.

 — Beeear... — Beartic e Mawile se olham preocupados.

 — Hum... — Khoury se depara com uma escadaria enorme que precisariam subir para saírem do porto. — Weavile, o que acha de nos levar lá para cima?

 — Whea! — Weavile sinaliza para todos se juntarem e coloca as mãos no chão, erguendo uma ponte de gelo para levá-los até o topo das escadas. Deslizando, Michiyo quase cai, mas Lyon a segura. Sem agradecer, ela apenas vira o rosto corado.


    Não encontrando muitas pessoas pelas ruas, Mawile repara num casal abraçado virando para um beco, com indicação de ser o beco Murkrow. Michiyo bate seu cajado no chão e ele ilumina o beco, onde três Nickit os encaram e correm sorrateiras para as sombras.

 — Acho que não é a melhor ideia... — Lyon olhava de canto e via olhos brilhantes nas sombras do beco.

 — Não vai me falar que está com medo de um beco? — Michiyo caçoa dele, mas um vulto apaga a luz de seu cajado e os três ouvem um grito agudo.

 — Relaxem, isso foi o Beartic — disse Khoury, sentindo o urso abraçá-lo.


 — O que temos aqui? Forasteiros perdidos? — As lentes de um óculos reluziram na escuridão do beco e todos viram um homem careca com brincos de prata aproximar-se.


 — Tsc, tsc... Mas vejo que trouxeram coisas interessantes para nós. — Outro homem surgiu e passou a mão no cajado de Michiyo, que o acendeu novamente e o empurrou. — Calma lá, garotinha... Não sabe com quem está se metendo!

    Os dois homens aproximaram-se da parte iluminada, agora sendo possível reparar em suas múltiplas tatuagens e coletes brilhosos, exibindo peitorais definidos. Os Nickit saltaram de caçambas de lixo para a frente deles.

 — V-Vocês sabem aonde podemos alugar um carro? — perguntou Khoury, sentindo que estava cercado.

 — Não vai ser preciso — disse o dos óculos, erguendo o braço. Os Nickit saltaram para cima deles, mas Mawile os golpeou com sua bocarra, que rosnou em seguida.


 — Esperem um pouco aí! — Dessa vez eles escutam uma voz feminina. Os Nickit recuam e os dois homens cerram os punhos.


    Uma mulher de óculos escuros e uma jaqueta vermelha brilhante com botões dourados retira um cigarro da boca usando dois dedos. Ela olha por cima dos óculos para os dois homens.

 — Não vão querer problemas comigo, vão? — disse e os dois homens resmungaram. O trio e seus Pokemon saíram do beco e ela encarou os dois uma última vez.

 — Fang, danke! Você nos salvou de uma encrenca! — agradeceu Khoury, seguindo a mulher.

 — Mas nada que não poderíamos ter feito, também. — Michiyo caminhava com os braços para trás da cabeça.

 — Essa cidade está menos segura que o normal, não vão querer se meter com aquela gente — disse Fang, apagando o cigarro com o dedo e o jogando numa lixeira caída e com pichações.

    O grupo acompanha Fang até um casebre com o grande símbolo de uma presa pichado, de onde parecia estar saindo alguma melodia de tons graves oscilantes. Lyon engole seco e Weavile não parece muito confortável de entrar, mas Fang levanta uma tábua retalhada que servia de porta para eles entrarem.
    Haviam alguns Pokemon Dark combatendo, como Scraggy e Poochyena, enquanto a iluminação falhava e mais homens e mulheres dançavam e bebiam. Quando a música mudou para outra do mesmo gênero, Lyon resmungou algo.

 — Não gosta de drill? — perguntou um homem musculoso com uma jaqueta branca brilhosa, que enxugava um prato.

 — N-Não é isso, eu amo drill, escuto sempre! — disfarçou Lyon, mas o homem não pareceu acreditar. Ele sinaliza para que Lyon sentasse num banco e começou a preparar uma bebida para ele.

 — Drill é como a gente mostra a realidade, nossas revoltas pelas tradições de Argentia — disse o homem, debruçando-se na bancada do lugar e empurrando uma caneca para ele. Lyon reparou na tatuagem de presa em sua cabeça. — É importante.



 — Então, por que vieram para Gangown? — perguntou Fang, retirando seus óculos e os enfiando dentro do sutiã, única peça que usava por baixo da jaqueta. A tatuagem de uma presa ia até seu umbigo. Khoury corou, focando o olhar no rosto dela. — Pelo que eu me lembro, já conseguiu a minha insígnia, Khoury... E vocês dois juntos não é uma combinação que eu faria, Michiyo e... O que perdeu o ginásio.

 — Como que ela já sabe? — Lyon recebeu dois tapinhas de Mawile nas costas.


 — Bem... Nós estamos só de passagem. Temos uma missão e precisamos chegar em Fervent City, por isso queríamos saber aonde alugamos um carro por aqui.

 — Não vai dar, não.

 — Ótimo, vamos ter que ir andando... — Michiyo cruza os braços.

 — Não tô falando só do carro. A cidade tá fechada, ninguém sai se não for pelo porto.

 — O quê?! — Os três falam ao mesmo tempo.

 — Sabem que a minha gangue lidera essa cidade há gerações, nenhuma outra que ousou tomar o controle se deu bem, mas parece que estamos divididos. 

 — A cidade toda tá atenta, ninguém sabe quem é o mandachuva do outro lado — disse o homem do balcão, servindo outra bebida para Lyon, que a afasta para não ter que tomar, mas Beartic começa a lambê-la.

 — Mas precisamos sair da cidade e subir a colina! É muito importante, Fang! — Khoury levantou-se, chamando atenção dos outros membros da gangue. Fang virou uma caneca e a bateu na mesa.


 — Não dá, proteger Gangown é meu dever como líder do ginásio da cidade e chefe suprema da gangue! Vocês dois devem sacar do que eu tô dizendo. — Ela olha para Lyon e Michiyo.

 — Ela... Não está mesmo errada, tomar decisões difíceis faz parte do trabalho — reconheceu Michiyo.


 — Mas como isso tudo aí que tu falou, parece que não é tão boa, né não? — disse uma mulher sentada em cima de uma mesa com três homens bebendo ao redor. Ela saltou para a frente de Fang, ficando cara a cara. — Nossa antiga chefona já teria resolvido tudo isso... Na verdade, eu mesma já teria, se estivesse no comando. Não acham?

    Ouvindo outras pessoas concordarem ao fundo, Fang fecha o punho direito e tenta socar a mulher, que a para segurando no punho e a empurra. Ela estica a cinta que usava e passa um pente em seu cabelo cacheado pintado de loiro, desafiando Fang para uma briga.

 — Acho que nós deveríamos ir embora... — disse Lyon, já na porta com Weavile, mas um homem bloqueia a passagem.

 — Mawile, Fairy Wind! — comandou Michiyo e Mawile girou sua bocarra, fazendo o homem que bloqueava a saída voar para longe.

    Deixando o lugar, os três voltam a caminhar pelas ruas da cidade, cansados. Algum tempo depois, Beartic coloca Lyon em suas costas e Michiyo volta a iluminar seu cajado. Mesmo estando de dia, a cidade era muito escura. 

 — Eles bem que poderiam colocar um poste de luz que funcionasse em alguns lugares daqui... — reclamou Lyon.

 — A Luminous Bridge ofusca toda a cidade mesmo. — Khoury referia-se à ponte construída acima de Gangown, que deixava tudo mais escuro.


 — Eu sei que é o jeito do pessoal daqui de resolver as coisas, com brigas e tudo mais, mas não temos tempo mesmo. Vamos sair de Gangown de qualquer jeito! — exclamou e os outros concordaram.

    Correndo para o portão da cidade para a rota que leva à colina, eles veem um rapaz branquelo contornando um homem e uma mulher com tatuagens de presa, que o perseguiam. Até que...


    Um homem de provavelmente mais de 2 metros de altura e muito forte, com um terno branco e tatuagens pelos braços e pelo rosto, segura o rapaz pela cabeça e o joga no chão. Os da gangue de Fang o encaram e comandam seus Pokemon para atacá-lo, mas ele desvia.

 — Ele não tem a tatuagem de presa — reparou Khoury, que deu zoom com a câmera de seu celular e  o fotografou, vendo uma tatuagem que lembrava um bombom enrolado em papel.

 — Deve ser da parte que se dividiu da gangue — fala Michiyo, vendo o homem socar dois Nickit, que são regressados, até que ele ergue um card dourado.


 — É um Break Card... — Lyon identificou, arregalando os olhos. — Ele é da Team Turbo!

 — Temos que avisar a Fang — disse Khoury, mas quando deu meia volta, se deparou com a mulher que enfrentou Fang mais cedo. Ela fazia uma bola de chiclete que logo estoura.


 — Aonde pensam que tão indo? — A mulher abaixou a gola de sua blusa, mostrando a mesma tatuagem do outro homem alto.

    Mais homens e mulheres cercavam o trio e seus Pokemon, que se juntam sem saber como sairiam dessa. A mulher que os liderava arremessou uma Pokeball escura para o alto, liberando um Pokemon com um péssimo cheiro, parecendo um amontado de lixo colorido.


    O Pokemon começa a desprender partes de seu corpo que ganham sua forma, só que em menor tamanho, e começam a atacar Weavile e Beartic.


    Michiyo ergue seu cajado e comanda para Mawile atacar. Ela obedece e forma uma esfera rosada e embaçada, erradicando os pequenos seres de lixo que se aproximavam.

 — Aquilo é um Muk, é muito perigoso fazer contato! — exclamou Khoury, vendo Beartic tentar socar o Pokemon, mas seu punho afundar no corpo dele.

 — Wheeeavile! — Weavile formou estacas de gelo e tentou soltá-lo, mas acabou caindo de cabeça em Muk.

 — Haha! — A mulher riu, estalando os dedos.

    Muk abriu sua boca e liberou gás venenoso, obrigando Michiyo a criar uma barreira ao seu redor, puxando Lyon para perto. Khoury e Mawile também se juntam, mas Weavile e Beartic ficam presos no corpo de Muk.


    Ouvindo o barulho de uma moto, a mulher se vira rapidamente, vendo Fang chegando dirigindo.

 — Eu sabia que tu tava por trás disso tudo! — Ela arremessa uma Pokeball para o alto, furiosa. — Mightyena, Fire Fang!


    Um Mightyena é liberado e ele eriça seus pelos, incendiando as mandíbulas e derretendo parte do corpo de Muk, soltando Weavile e Beartic, que caem abraçados. Michiyo desfaz a proteção e Khoury e Lyon correm até eles.

 — Fang... — As duas se encaram por um tempo, mas a mulher regressa Muk e sinaliza para seus capangas recuarem, incluindo o homem alto com o card dourado.

 — Cês tão todos bem? — perguntou Fang, descendo da moto.

 — Fang... Quem é aquela mulher? — perguntou Khoury, dando apoio para Weavile.

 — É a Sour Candy. Fomos colegas de gangue, éramos as melhores treinadoras, mas a antiga chefona me escolheu para substituí-la antes de ir embora. Sour Candy sempre quis ser a chefe e nunca aceitou o que houve, então cresceu e virou essa pessoa ridícula.

    Enquanto isso, no lixão da cidade, vários Grimer e Muk coloridos rastejavam. Sour Candy socou uma placa com o símbolo de Muk, com lágrimas nos olhos. Mais gangsters estavam ao seu redor.


 — Eu vou expulsar essa garota egoísta da nossa cidade!

Continua

2 comentários:

  1. Sei que você nunca assistiu, mas esse capítulo me lembrou muito o começo de Rave Master, com as ruas pichadas e gangues por todo o lado, ficou bem legal o clima do capítulo, a cada uma mudança bem repentina da ilha mais civilizada onde tudo parecia mais bonitinho e então esse choque de realidades com a cidade portuária da ilha vizinha.
    Gostei da apresentação da Fang, ela é bem badass e já virei fã, amei o estilo dela <3
    Estava sentindo falta de Break mas ao começar a ler nem senti que demorou tanto assim a sair, você deixou tudo com um clima familiar antes de apresentar a nova realidade e deixou bem claro as relações entre os personagens para situar o leitor onde terminou, o que mostra que seu planeamento está perfeito para essa história =P

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  2. Concordo com a Katie esse capitulo me lembrou também do começo de Rave Master e até outros animes também. Estou contente pela volta de Break já estava com saudades, mais confesso lendo o capitulo tive a mesma sensação que a Katie teve, nem parecia que a fanfic tinha ficado em um pequeno hiato. Eu gostei dessa cidade, uma cidade uma realidade bem diferente das outras, e eu gostei da Fang e da forma que apresentou ela :3 Resumido gostei bastante do capitulo que inclusive deixou com um gosto de quero mais ^^ Continuaaaa o/

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