Capítulo 11

    Wind City, onde é dito que o caminho do vento e o das flores se cruzam. E no ginásio dessa cidade, a líder dele era conhecida como uma feiticeira que empunhava um cajado mágico, o que a irritava profundamente. Porem, nesse momento ela estava no campo de batalha estampado pelo símbolo de sua insígnias, uma flor se abrindo para uma joia, e seus Pokemon a assistiam treinar.

 — Novo alvo, Togetic — pediu Michiyo para sua Togetic, uma fada branca com pequenas asinhas.

 — Tic! — Togetic multiplicou-se pelo campo de batalha, formando cinco versões idênticas de si.

    Respirando fundo, Michiyo empunhou seu cajado feito de madeira. Haviam flores pelo corpo dele, e mesmo que algumas caíssem durante seus movimentos, não pareciam parar de nascer. Além disso, era fino e não possuía uma base, mas assim que entra em contato com a mão da menina, é preenchido por flores brilhantes que desaparecem e o dão a forma de um arco.

    Fechando um de seus olhos, Michiyo mira com seu novo arco para atingir um dos clones, e uma flecha de flores é materializada, envolta por uma aura cor-de-jade. Mawile e Rapidash, que assistiam mais de perto, abriam a boca encantadas com o que viam, mesmo que não fosse a primeira vez.

 — Toge! — A Togetic original levantou voo, chamando por seus clones, que a acompanharam. Assim, Michiyo teria mais dificuldades para atingir alvos em movimento.

    Engano dela. Michiyo também movia-se agilmente, sabendo calcular como deveria inclinar seus joelhos para assumir uma posição mais rápida em suas investidas, sem cansar-se. Calculando rapidamente, disparou uma flecha que dividiu-se em duas, como se as raízes das flores estivessem laçadas, e três dos cinco clones desapareceram.

 — Manda ver! — Abriu um sorriso no rosto, e Togetic sentiu-se desafiada, clonando-se ainda mais.

    Todos os clones agora investiam contra Michiyo, que aproveitava de sua velocidade para esquivar-se de cada um, sempre mirando flechas que os destruíam. Então resta apenas um clone, comandado por Togetic para voar em ziguezague. 

 — Shooting... Life! — gritou após uma pausa, e seu cajado acendeu-se. As flores reluziam e uma nova flecha formou-se, colorida e maior do que as anteriores. Esta foi disparada de forma inclinada, e a chance de acertar era muito pequena para quem não entendesse dos cálculos da menina.

 — Toge?! — O clone se viu voando na direção da flecha, que bateu em sua cabeça. Seu corpo passou a ser enraizado e em instantes desapareceu, restando apenas uma flor rosada, mas intercalando entre tons escuros e claros nas pétalas.

 — Togetic! — comemorou a fada original, aproximando-se de Michiyo, que arremessa seu arco no chão, o fazendo voltar a ser um cajado de madeira. — Toge?

 — Eu fiz de novo... Me desesperei e usei aquele poder! — Ela levou as mãos até o rosto, parecendo envergonhada do que fez.

    Na cabeça da menina, lembranças antigas voltavam. Lembranças dela correndo por um caminho de flores, com os punhos cerrados, e... 

 — Não — disse para si mesma, balançando a cabeça e afastando os pensamentos. Levantando-se sozinha, agradece Togetic pelo treino e se direciona para a cozinha, enquanto seus Pokemon trocavam olhares preocupados.

    Na cidade, Khoury e Lyon caminhavam pela Avenida das Flores e reparavam nas preparações para algum festival. Quiosques com flores, talismãs e réplicas de flores feitas de acrílico, para aqueles que fossem alérgicos, eram os itens mais encontrados. 

 — Eu vou querer um, minha senhora — disse Lyon, entregando uma cédula para uma senhora com os cabelos balançantes pelo vento, embora curtos.

 — Ohhh, meu rapaz! Um talismã de flores é o que deseja, então é o que terá — Ela entregou o objeto para seu cliente, sorrindo. — Talismãs são artefatos mágicos, sabia? Embora essa cidade abomine feiticeiras e magias, gostam de acreditar que seus desejos vão se realizar por usarem um talismã de flores. Contraditório, não acha?

 — É... Acho que sim. — Encarava o talismã em sua mão, refletindo sobre como tratou Michiyo no dia anterior e agora estava comprando aquilo.

    Continuando a andar pela avenida, Khoury e Lyon tiveram que fazer uma pausa para Weavile levar Beartic para conhecer velas aromáticas, então decidiram sentar e conversar. 

 — Acha que fui duro demais com ela? — perguntou Lyon, balançando o talismã de um lado para o outro.

 — Você tocou no ponto que ela não gosta, sabia que iria causar aquela reação, era o mais lógico.

 — Eu sei que ela não é bem vista, conheço as histórias. Que ela é arrogante, isso é, mas... Eu também fui. E me sinto em completa contradição, acabei de comprar um talismã que acreditam ser mágico!

 — E comprou por que acha que seus desejos vão se realizar?

 — Bom... Não, eu comprei porque vi uma placa no quiosque falando que estão vendendo também para os turistas levarem uma parte de Wind City assim que deixarem a cidade. Gostei da ideia, levar algo daqui comigo, mas pensando melhor, não vou sentir falta desse lugar. Esse vento todo arde meus olhos — falou enquanto abria bolsos de sua mochila, procurando por um vazio para guardar o talismã.

 — Eu só consegui enfrentar Michiyo no ginásio dela quando afetei com força seus sentimentos, entendeu? Toquei na ferida, assim como você fez, mas fui além! — Khoury encarava o céu ao falar, e gesticulava com as mãos. — Falar sobre a razão das pessoas não gostarem dela a desestabilizou.

 — Histórias verdadeiras ou não, é uma pessoa difícil de se lidar, não tem como negar.

    Desviando o foco da conversa, um Snubbull de pelo rosa brilhoso e com laços floridos nas orelhas passa correndo por baixo das pernas de Khoury. O canino tinha cara de poucos amigos e parecia em fuga.

 — Segurem o Snubbull!! — gritou um senhor de terno marrom e gravata azul, correndo na direção dos dois.

 — Whea! — Weavile saltou para a frente de Snubbull, o assustando e conseguindo pegá-lo no colo, embora o Pokemon relutasse.

 — Ufa! — O homem repara em Khoury e Lyon, sentindo que precisava dar explicações. — Oh! Vocês visivelmente não são daqui! Sou o prefeito de Wind, e esse é o Snubbull, o mascote da cidade.

 — Mascote? — indagou Khoury, vendo Weavile entregar Snubbull para o prefeito.

 — Não sabem? Amanhã ocorrerá o Flora Matsuri. Fiquem pela cidade, vão gostar com certeza! — afirmou com convicção. —   Mas afinal, como se chamam?

 — Sou Lyon, líder do ginásio de Arctic, e este é Khoury — apresentou, com Khoury sorrindo e ajeitando seus óculos.

 — Pelo menos um líder de ginásio decente nessa cidade... É um prazer recebê-lo e agradeço ao Weavile por pegar meu Snubbull.

 — Snuuu... — choramingava Snubbull enquanto o prefeito virava-se de costas para andar em outra direção.

 — Ele não parecia nada feliz com esse prefeito... — disse Lyon, o que Khoury não reparou.

    Khoury estava sentado num banco coberto de pétalas e lia um artigo digital sobre flores. Weavile e Beartic divertiam-se numa perseguição de pega pega, e Lyon... Bem, andava em círculos com as mãos nos bolsos. Ele pega o talismã mais uma vez e o encara com repúdio. Sua mão tremia com aquilo, mas qual sentido fazia? Por que sentia seu seu estômago embrulhar?
    O tempo ao redor parecia parar e Lyon se viu no ginásio de Michiyo, onde a menina chorava em posição fetal. Num piscar de olhos percebeu que era só imaginação, seria isso... a culpa? Quantos sentimentos esquisitos só por causa de uma ofensa, mas ele queria gritá-los mais alto do que ouvia-os gritarem.

 — Que gritaria é essa? — Lyon ouviu a voz de Khoury e apertou o talismã.

 — Você consegue ouvir? Achei que estava pensando e... — Parou de falar ao ver Khoury o olhando confuso. Então...

 — Hey, você enfeitiçou aquele garoto!! — Uma voz grossa gritou, e Lyon se tocou que era sobre isso que Khoury falava. Beartic parou de correr e Weavile colidiu com seu traseiro, caindo sentado em uma pilha de pétalas.

    Na calçada seguinte havia o Flower Shop, mas algumas pessoas aglomeravam-se diante de Michiyo, que aos poucos sumia da visão dos meninos.

 — Eu não enfeiticei ninguém, isso foi irresponsabilidade desse moleque! — explicava Michiyo, apontando para um garotinho aos prantos com um Psyduck desacordado nos braços. — Vamos, diga para as pessoas que eu não fiz nada!

 — Snif... Psyduck... — O menino nada dizia, apenas lamentava com o Psyduck.

 — Ele nem consegue falar por causa do feitiço! — gritou uma mulher, dessa vez. — Bruxa, Morgan!

 — O q... — Antes que pudesse dizer algo, Michiyo é alvo de uma pedra, que colide com seu braço. Irritada com a atitude de quem jogou, ela ergue seu cajado, movida pela raiva.

 — Parem já com isso, não precisam machucá-la assim! — gritou Khoury, passando pela multidão e se colocando à frente de Michiyo, que cora ao vê-lo.

 — Eu não preciso que me proteja! — reclamou, mas as pessoas voltaram a arremessar pedras e outros objetos.

 — Argh... — Ainda incomodado, ele atirou seu talismã no chão e foi ver o que acontecia. Sem que ele notasse, o talismã foi pego pela sombra de uma mão.

    Michiyo desviou de um sabonete e sua paciência esgotou, mas pensou em seu treino da manhã. Sem escolhas, ela guarda seu cajado e segura firme no braço do garoto, o puxando para uma corrida em direção ao ginásio.

 — Espere! — gritou Lyon, saltando para as costas de Beartic, assim como Weavile. O urso corre na direção que Michiyo ia, chutando poeira para cima das pessoas.

    Michiyo destrancou rapidamente o portão de seu ginásio e até esperou Beartic entrar, o fechando em seguida. Ela soca a porta, mas apenas sente dor em sua mão.

 — Impim! — Um Impidimp puxa a calça de Khoury, que o vê rindo com a língua roxa para fora. A seguir, ele corre para o jardim da casa, se misturando com estátuas de jardim com formatos de outros Impidimp, todas rosas e com os detalhes fiéis ao corpo do Pokemon. 

 — Eles te machucaram? — perguntou Khoury, voltando a focar na garota, e logo nota seu braço ralado.

 — Eu tenho um curativo. — Lyon retirou um envelope de sua mochila, mas Michiyo o olhou nos olhos, o fazendo entender de que ela estava irritada. — Olha, pensei melhor hoje, peço desculpas por ontem. 

 — Tanto faz. — Deu os ombros, passando por Lyon e Khoury e indo para o ginásio. O homem range os dentes, não gostando da resposta, mas prefere não confrontar. — Vão entrar ou não?

 — Nós aceitamos o convite — disse Khoury, dando uma cotovelada em Lyon. Weavile e Beartic escolheram ficar no quintal para explorarem.

    Dentro do ginásio, Michiyo oferecia chá para os dois, embora eles estivessem receosos com a bebida. Rapidash, Mawile e Togetic observavam ao longe a menina se aproximar deles, sentando nas pernas, numa almofada no chão com sua xícara.

 — As pessoas adoram inventar histórias sobre mim, foi isso que viram agora pouco. Aquele garoto com o Psyduck deixou o Pokemon correr por aí e ele comeu azaleias venenosas, então fui ajudar e olha o que recebo! Uma pedrada! — Mostrou o braço.

 — Eles também te chamaram por um nome... — lembrou Lyon, e a menina revirou os olhos.

 — Morgan... Estão me comparando com Morgan le Fay, a suposta irmã traiçoeira do antigo Rei de Blizzfalt que teve fama de feiticeira. Falam que eu tenho os poderes dela, acreditam? — Sua pergunta não teve respostas. — Também falam que sou uma Changeling, uma criança trocada.

 — Como assim trocada? — dessa vez Khoury perguntou.

 — Consiste na lenda de que alguns bebês humanos são raptados por Impidimp, Morgrem e Grimmsnarl, fadas da floresta, e depois são devolvidos com algumas modificações. Explicam a minha relação com as fadas, batalhas e magia por essa história. Eu sinceramente acho engraçado e criativo, mas lamento que pessoas acreditem nisso.

 — Líderes de ginásio deveriam proteger a cidade, e não a terem como inimiga — ressaltou Lyon, mas lembrou-se do laboratório do Professor Kodai em sua cidade, onde ele não conseguiu proteger o homem. — Mas compreendo...

 — Não é como se eu não tentasse, senhor óbvio — respondeu Michiyo, voltando a fuzilá-lo com o olhar. — As pessoas esperam coisas tão boas das flores, do vento, das fadas... Veem somente o encanto, apreciam as pétalas caindo do céu. Gostaria de ser como elas e ser reconhecida, mas estou aqui, sendo odiada de todas as formas. Questionam o meu jeito, mas não não questionam as razões, não é?

 — Acredito que... Esteja certa — confirmou Lyon, envergonhado.

 — É bom que tenha decidido se abrir pra gente, Michiyo! — Khoury agora bebia o chá. — Não conversamos assim da última vez.

 — Só estão aqui porque não queria que ouvissem mais histórias idiotas sobre mim, ok? — Levantou-se para guardar sua xícara.

 — Pode só me dizer... Quando isso começou? — A pergunta de Khoury arrepiou a líder.

 — Meu poder — começou Michiyo, vendo seu cajado encostado numa das paredes. — Foi só um acidente... Foi um acidente quando eu estava na escola, eu não queria acertá-las. Foi só um acidente que acabou com a minha sanidade...

 — Michiyo — chamou Lyon, agora de pé, e Khoury não percebeu o motivo disso. — Você não precisa continuar isso se te machuca, eu entendo agora. Mas se lembra da razão de estarmos aqui ontem, a nossa proposta? — A menina assentiu, saindo do clima sombrio que estava. — Nos ajude, vai te fazer bem, eu sei disso.

 — Você quer mesmo isso? — perguntou, virando-se para Lyon, que assente com a cabeça.

 — Assim, você vai começar do começo! Sair desse lugar...

 — É! — Khoury levantou-se com os braços flexionados na frente do peito. — E você não é uma irmã bruxa malvada ou uma criança trocada por ter um poder tão legal... Isso só te faz super especial!

    Sem acreditar no que ouviu, Michiyo sentia que seus olhos brilhavam e suas bochechas ardiam. Ela não agradece, mas adentra sua cozinha. Khoury e Lyon trocam sorrisos, e as fadas do ginásio também faziam o mesmo. Os dois decidiram ir embora, esperançosos.

    No fim da tarde, os portões do ginásio eram abertos por Michiyo e seus Pokemon. Não haviam mais pessoas ali. Rapidash relinchou e formou um arco íris da ponta de seu chifre, o que Mawile achou lindo. Togetic voou para ficar perto. O Impidimp do jardim, ao ver aquilo, passou a correr e dar cambalhotas mais rápido, sabendo que estava na hora.

 — Impidimp, venha cá! — chamou pelo Pokemon, que correu até ela, escalando seu corpo até chegar em seu ombro. Ela sente o vento balançar seus cabelos e trazer algumas pétalas coloridas. Afastando as mechas, inspirou fundo e depois soltou o ar pela boca. — Amanhã será o dia... Do Flora Matsuri!

Continua

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