terça-feira, 13 de julho de 2021

Capítulo 18

    Mais um dia se iniciava em Technolt. Os balões que faziam um campo de calor ao redor da cidade estavam bem ativos, impedindo os efeitos da nevasca. Laxus pediu para que seus hóspedes saíssem para que os robôs fizessem reparos e limpeza na mansão deixada por seu pai, o aclamado Ivan Dreyar.


 — Grrrrrsnuuu!! — Na frente do ginásio da cidade, Snubbull rosnava para Beartic, que olhava para os lados buscando algum motivo para isso.

 — Acho que seu novo amiguinho não é tão amiguinho assim — disse Lyon, mas Michiyo revirou os olhos e pegou o Pokemon no colo.

 — O Khoury prometeu que me ajudaria nos meus treinos hoje, faríamos a Snubbull enfrentar o Weavile, mas como ele resolveu sumir acabou nisso.

 — Sinto que se você não achar algum oponente logo, ela vai é atacar a gente...

 — Mas sério, cadê o Khoury? — Michiyo soltou a Pokemon, que avançou em Beartic, mas ele desviou. — Não é possível que tenha surtado com a lógica das amizades e todo o resto que ficou falando pro Laxus ontem...


 — Lógica das amizades com o Laxus? — Lyon cruzou os braços, indignado, mas preferiu focar na pergunta. — Ontem de noite eu notei que não dormiu, mas isso já é costume dele.

 — Ontem nem aconteceu algo grandioso... Só passamos o dia conversando com o Laxus sobre o pai dele e a cidade. E ele nos pagou um jantar, pena que perdeu! Até que gostei de ser servida por pedaços de lata vestidos como garçons — contava Michiyo, e Lyon só ouvia tentando pensar em algo, até que sua mente teve um click.

 — Espera só um segundo... — Ele pegou seu celular e passou a digitar vários números, abrindo um site com o nome G-Fuel. Rolando uma grande listagem de nomes, ele parou em um específico, dando zoom.


 — Quem é esse Spencer Kazunari? — perguntou, assustando Lyon que não havia a notado em cima da cabeça de Rapidash, vendo seu celular.

 — Que fofoqueira! Isso é confidencial dos G-Fuel! — Ele abaixou o celular. — É o pai do Khoury... Hoje é aniversário de morte dele. Deve ser a razão dele estar assim, a época o faz mal.

 — Isso faz mesmo sentido... Mas como tem acesso a esses dados? — perguntou, deixando o homem atrapalhado.

 — Eh... Eu sou um G-Fuel, ele também era, é por isso! Sem mais perguntas!


    Ao mesmo tempo, desprotegido pela tecnologia de Technolt, Khoury subia ao Memorial Plateau, o cemitério no topo do planalto ao fim da cidade. Weavile estava ao seu lado, inquieto. Quando o garoto passou pelo portão cinzento e pelas estátuas de Ivan Dreyar, sentiu seus passos estarem mais pesados. Seu corpo não queria que ele estivesse ali.

 — Wheaa! — Weavile segurou no braço do garoto, que respirou fundo e continuou a andar.

 — Parece que não diminuiu, mesmo que tenham se passado 3 anos — falou, ajoelhando-se na neve que cobria boa parte das lápides daquele lugar. — Se me visse agora... Não sei se estaria orgulhoso ou decepcionado. 


    Deitando-se na neve, Khoury fecha os olhos, deixando-se afundar. Weavile sentou ao seu lado, encarando o nada em sua frente. Minutos silenciosos passaram-se.

 — Eu não dormiria nesse lugar se fosse você — disse uma voz familiar que despertou Khoury. Era Hector, de pé em sua frente. — Parece que todos os outros que estão aqui não acordaram mais.

 — Não estou dormindo, Hector — falou, voltando a fechar os olhos, mas agora sentando-se.


 — O que faz nesse lugar? Não parece ter vindo a passeio — perguntou, sentando também. Khoury manteve os olhos fechados. Mais alguns minutos se passaram e ele os abriu para ver se o garoto tinha ido embora.

 — Você... — Começou a falar, vendo que ainda estava ali. Mordeu o lábio inferior, não conseguindo continuar, mas sentiu a mão de Weavile na sua. — Você já perdeu alguém muito importante?

 — Já — respondeu, sem desenvolver. Khoury esperou por mais algo, fitando a neve. — Quem você perdeu?

 — Meu pai... Mas ele não está aqui. Nunca encontraram o corpo dele, então... É simbólico. — Ele apontou para uma lápide com o nome de seu pai gravado. Hector encarou aquilo por alguns instantes. — Era tudo pra mim. Agora... Não quero falar disso.

 — Como preferir — respondeu Hector, voltando a ficar quieto. Khoury apertou a neve com as mãos desprotegidas.


 — Eu cheguei até aqui por você... E ainda não entrei para os G-Fuel. Só queria que me respondesse de alguma forma. Sem uma resposta eu fico perdido. Eu estou perdido. — Ele continuou conversando com a lápide de olhos fechados, de costas para Hector. — Só queria viver nas memórias que eu tenho de quando tudo era mais simples.


 — Pensei que não quisesse falar sobre — interrompeu. Khoury não respondeu, mas ele o viu tremer e abraçar o próprio corpo. — A energia desse lugar... É a natureza seguindo seu caminho. Pessoas nascem e morrem. Você deveria ter trazido um casaco, desse jeito vai ficar doen...

    Sendo surpreendido, Khoury se vira em lágrimas. Weavile encolhia as orelhas, também criou vínculos e sentia falta daquele homem.

 — Eu quero ele de volta! — Exclamou entre soluços, levantando-se. — Foi minha culpa, ele só não está aqui para eu estar! E eu não consigo nem descobrir o que são esses Pokemon dourados... Se fosse ele, já teria descoberto!

 — Não tem como trazer alguém de volta a vida.

    Khoury sabia disso, estava ficando irritado com o outro garoto que não parecia compreendê-lo. Mas nem ele se entendia. Não fazia sentido, por isso não conseguia sair do mesmo lugar. Ele sentiu a mão de Hector em seu ombro, e ela estava quente.


 — Não concordamos em nada desde que nos conhecemos, mas sei o que está sentindo agora. Você não entende o motivo de seguir sem ele e tá afetado pela época — falou, e Khoury sentiu ter encontrado sua resposta. — Você...

    Sem conseguir terminar de falar, Khoury virou mais uma vez e o abraçou. Seus olhos brilharam num tom dourado, mas permitiu, não sabendo como corresponder. Weavile pressentiu uma presença diferente e entrou em alerta, puxando a calça de Khoury.
    Os três olharam para frente e viram uma névoa arroxeada ganhar forma, com grandes olhos esbulhados, uma enorme boca e duas mãos com garras gigantes. Tratava-se de um Haunter.


 — Haunter são atraídos pela tristeza das pessoas, são perigosos — reconheceu Hector. Khoury enxugou o rosto com o braço e ajeitou os óculos, ainda abalado. Weavile fez cristais de gelo rodopiarem ao seu redor e os guiou até Haunter, mas derreteram no gás de seu corpo.

    Haunter separou suas mãos do corpo e elas agarraram-se em Khoury e Hector, sugando a energia deles. Os dois sentiam apenas o cansaço chegando e não conseguiam livrar-se.

 — Vamos lá. — Hector botou seu capuz e correu até Haunter, o dando um soco no meio do rosto. O fantasma não esperava por essa, soltando os dois.


 — Como fez isso?! Ele é um fantasma!

    Sem tempo para responder, Hector desviou de uma sequência de esferas feitas pelas sombras que Haunter colheu de Khoury e Weavile. Ele subiu numa lápide e saltou para cima do fantasma, o socando nas costas e caindo junto dele.
    Haunter continuou a receber socos e desfez-se no chão, deixando aquele plano. Hector abaixou o capuz e assoprou seu punho. Khoury, boquiaberto, aproximou-se dele.

 — Chama-se Shadowboxing — disse, com um leve sorriso. — Isso é socar a sua própria sombra, um dia eu te ensino.

 — Minha sombra...

 — Hey, Khoury!! — A voz desafinada de Lyon ao gritar fez o menino se virar para trás, vendo-o nas costas de Beartic com Michiyo, chegando na entrada do cemitério. — Sabia que estaria aqui!

 — Não se torture sozinho, por favor — pediu Michiyo, saltando do urso e indo até o amigo, que sorriu por vê-los. — Nós... Sentimos muito pelo seu pai, mas não queríamos que se isolasse.


 — Nós também trouxemos isso. — Lyon deixou Beartic se aproximar de Khoury. Na boca do urso, haviam flores de lírio. Weavile as pegou, agradecendo ao seu amigo peludo. — Vamos ficar aqui até que decida voltar.

    Atrás de Lyon, seus Pokemon e os de Michiyo estavam agasalhados, prestando apoio também. Khoury e Weavile seguraram as flores juntos e deixaram na frente da lápide.

 — Danke, Lyon, Michiyo, vocês... — Olhou para os Pokemon. — E a você também, Hector.

 — Hector? — perguntou Michiyo. — Aquele garoto que nos acompanhou no museu subaquático? Não o vejo.

 — Uh? — Khoury olhou ao redor, percebendo que ele já havia sumido como de costume, mas não se importou com isso. — Prefiro voltar para Technolt.

    Michiyo deu carona para Khoury em Rapidash, e Lyon e Weavile foram em Beartic, assim voltando para a cidade. O homem estava satisfeito de ter ajudado, mas lembrava-se da simulação que Lance preparou, onde perdeu para Raihan por conta de seus sentimentos. Afinal estava mesmo envolvido com os dois adolescentes. Talvez devesse aceitar a proposta e ir no Terapeuta dos G-Fuel, o Dr.Yung.


 — Khoury, Michiyo, eu fui chamado na base dos G-Fuel, voltarei logo. Fiquem na cidade, pode ser? — perguntou e os dois assentiram.

 — Pelo menos nos avisou dessa vez — disse Khoury e Lyon fez careta. Michiyo então o segurou pelo braço.

 — Vem, vamos comer algo pra animar! Quem sabe o Laxus paga nosso almoço? — Ela sugeriu animada, contagiando o amigo.

    Enquanto isso, no Memorial Plateau, Hector erguia uma espada quebrada e enferrujada que levava consigo. Ele sorri sozinho, rindo baixinho.

 — Ich danke dir von ganzem Herzen.

"Ouçam só o que temos... 'O pesadelo de guerra Shadow, ich danke dir von ganzem Herzen.'"
"Perdão?"
"
É um agradecimento vindo do coração. A frase não faz muito sentido, mas parece ter relação com esse Pokemon da estátua."

Continua

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2 comentários:

  1. Shadow Boxing uh? Você é muito matreiro senhor Davi, to te topando e to adorando teorizar sobre xD
    Minha teoria ja ta feita, to aguardando a revelação para eu me enaltecer como a maior sabona do mundo mwahahahaahaha!
    Fiquei feliz por Break ter regressado, adorei este capítulo e finalmente senti alguma coisa pelo Khoury sem ser raiva por ele não dormir... I mean, isto até ele falar "Pelo menos nos avisou dessa vez" como s ele não tivesse ido ao cemitério sem falar com ninguém... enfim a hipocrisia...
    A musiquinha m fez sentir coisas e todo o cenário do cemitério ficou muito bonito, adoro como está construindo seu mundo =P

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  2. Shadow Boxing já ouvi falar disso mas não me lembro aonde kkkk :P mas gostei bastante desse Shadow Boxing. Fiquei muito feliz por regresso de Break estava com saudades da fanfic, dos personagens e do mundo que você vem construindo. Então é aniversário de morte do pai do Khoury, coitado Khoury deve ser um dia bastante dificil para ele e ai apareceu Hector que de certa consolou o Khoury e falando nele nós descobrimos mais coisas como o Shadow Boxing que falei no inicio do comentário, a espada enferrujada e a ich danke dir von ganzem Herzen (já ouvi algo parecido com isso em algum lugar). Por fim Lyon, Michiyo e seus respectivos Pokémon foram dar uma força para o garoto. Quando Lyon avisou que teria que sair "no chamado do G-Fuel" o Khoury disse que bom que dessa vez avisou, engraçado que ele saiu sem avisar claro que tem o fato de ser um dia triste para Khoury. Resumindo eu gostei bastante do capitulo e como já falei feliz pelo retorno de Break e ansioso pelos próximos capitulos :3 continuaaaa :3

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