segunda-feira, 19 de julho de 2021

Capítulo 19

     Lyon usava uma capa de chuva azulada quando desceu por um elevador ao subterrâneo. Ele retirou a capa molhada, ajeitando seus cabelos e esticando seus braços. Quando as portas abriram-se, um clarão quase o cegou, mas caminhou com as mãos nos bolsos. Estava no Q.G. dos G-Fuel e a recepção era um grande salão bem iluminado, com o símbolo das três ilhas do Arquipélago estampado nos pisos frios. Vários membros transitavam pelo salão, pegando novas missões, voltando das suas ou apenas indo para a lanchonete.


 — Gwehehe! — Lyon escutou uma risada familiar, já revirando os olhos. — Geladinho, o que veio fazer aqui? Pedir por missões para resgatar Glameow das árvores? Ou isso é muito avançado para você?


 — Não enche, Raihan. Você sabe que só não o venci na simulação porque não quis — disse, andando enquanto Raihan fazia caretas ao seu lado, zombando dele. — Dá pra parar?!

 — Não até me dizer para que voltou. — Ele se colocou na frente de Lyon, o dando uma cabeçada sem usar muita força.

 — Eu aceitei o que o Lance sugeriu. Vim para a terapia — respondeu, esperando alguma reação de Raihan, mas ele ficou alguns segundos processando a informação até começar a gargalhar. — O que tem de engraçado nisso?!

 — O coitadinho veio fazer terapia?! Gwahahaha!!! Você é mesmo um idiota, mas não sabia que também era um lunático!

 — Vou te mostrar quem é lunático! — Ele puxou o bastão de metal preso em seu cinto, o aumentando de tamanho. Raihan lambeu os beiços e puxou sua pistola de corda.

 — Já chega. — Os dois escutaram uma áspera voz feminina. Uma mulher com longos cabelos cianos presos num rabo de cavalo e usando um vestido justo do mesmo tom se aproximou dos dois com os braços cruzados. — Raihan, você não deveria estar localizando a menina com a Florges Dourada?

     Lyon gelou ao ouvir aquilo. Agora essa missão era de Raihan, não mais dele. Isso era o que mais o incomodava no momento.

 — Eu só estava me divertindo um pouco com o Geladinho aqui! Não precisa me lembrar da minha própria missão, Clair.


 — Hm... Caso tenha esquecido, sou sua superior. Posso passar sua missão para outro se continuar falando nesse tom. — Ela deu as costas para Raihan, que engoliu seco.

 — E-Era só brincadeira! Eu estou saindo agora mesmo — falou, curvando-se e dando meia volta às pressas para deixar o Q.G.

 — E você... Vai ver o Dr.Yung, certo? Ele está atendendo, suba ao consultório dele e aguarde na recepção. — Ela voltou-se para Lyon, que só assentiu com a cabeça e reparou na grande pérola que usava na gargantilha.


    Enquanto Lyon aguardava sua sessão começar, Khoury e Michiyo visitavam o restaurante Bots da Fábrica de Pokeballs de Technolt, acompanhados por Laxus. Eles sentavam em sofás vermelhos e a mesa tinha o formato de uma engrenagem.

 — Esse é o primeiro restaurante que visito que dá comida de graça para os Pokemon — disse Michiyo, vendo Snubbull se preparar para pular numa pilha de ração confeitada. Os Pokemon ficavam numa área com cercado ao fundo do restaurante e tinha comida a vontade. Vikavolt e Quagsire também estavam lá, se deliciando e interagindo com outros Pokemon.

 — Mawa... — Já Mawile preferia se sentar à mesa, achava mais elegante e também queria ficar perto de Weavile para animá-lo.


 — Eu financio a comida para os Pokemon da cidade, eles merecem. Criei um robô para preparar as refeições deles, esse restaurante está aberto 24 horas — contou Laxus, vendo o cardápio num holograma em sua frente.

 — Bip! Aqui está o seu sorvete. — Um dos garçons robóticos vestido de terno aproximou-se, esticando seu braço por cima da cabeça para puxar a tampa de uma bandeja em sua outra mão, revelando uma grande taça de sorvete de caramelo.

 — Que capricho! Danke por pagar isso, Laxus. Estava precisando de algo assim para levantar o ânimo — disse Khoury, pegando a taça. O robô ganhou um brilho vermelho no olhar.

 — Não me agradeceu... Vou lembrar disso quando dominarmos o mundo e escolhermos os humanos livres — disse o robô baixinho, afastando-se lentamente.

 — É impressionante como consegue inventar coisas tão úteis! — disse Michiyo. Laxus soltou uma pequena risada. — Estou falando sério, você fica dizendo que só faz reparos nas invenções de seu pai, mas tudo que cria também é muito legal! Essa cidade deve te amar... Que inveja. E eu não sou de elogiar, viu...

 — Minhas invenções não são nada em comparação com as dele. Quando eu era criança fiz minha primeira invenção, um abajur em formato de estrela que brilhava num tom diferente em cada uma das pontas.


 — Parece algo que o Weavile colocaria no nosso quarto — disse Khoury entre mordidas no sorvete.

 — Whea! — Ele não negou.

 — Adivinhem qual foi a reação do meu pai quando o mostrei? Ele pegou, analisou e apontou todos os defeitos possíveis naquilo, ainda dizendo que faria um bem melhor. E é assim que me sinto até hoje, nada que eu fizer vai ser tão bem elaborado e grandioso como os feitos dele.

 — Cara, você tem um trauma sério com seu pai mesmo... — Michiyo roubou um pouco do sorvete de Khoury.

 — Não vamos voltar nisso. — Ele levantou as sobrancelhas e olhou para Khoury. Michiyo demorou um pouco a entender que era para o garoto não voltar a ficar mal pensando em seu pai. — Cadê o amigo de vocês? Surtou e saiu sem avisar de novo com o ursinho dele?

 — Dessa vez ele avisou, disse que foi chamado pelo Lance. Parecia importante, mas nos pediu para não deixarmos a cidade até ele voltar. Talvez tenha algo a ver com a missão dele e os Pokemon Dourados! — respondeu Khoury. Laxus bufou e selecionou o prato que queria no holograma.

 — Já escolheu o seu, garota do cajado? Pode pedir o seu favorito também.


 — Meu favorito? Então o mais caro, esse é sempre o que mais gosto! — Ela rolou o holograma com o dedo até os preços mais altos.

 — Mawa! — Ela tentou repreender sua Treinadora, mas viu Weavile fazer o mesmo, desistindo.

 — Aaah! — exclamou Khoury, arrepiando Laxus pelo susto. Ele puxou o celular assim que vibrou. — Responderam meus e-mails!

 — Quem, o clube dos nerds que não dormem? — perguntou Michiyo, mas Khoury estava feliz demais para responder a provocação.

 — Os G-Fuel! Finalmente me notaram, querem marcar minha apresentação para a Super G-Fuel Clair! Se ela me achar bom, vou poder entrar!

 — Clair? — Interviu Laxus. — Ela foi promovida, é? Uma pena, se alienou totalmente aos propósitos deles...

 — A conhece? — perguntou Khoury.

 — Fizemos algumas missões juntos. Eu, Lyon e ela. Já era uma bela moça na época.


 — Espera, você foi um G-Fuel?! — A surpresa veio de Khoury. Michiyo realmente não se importava e estava mais ansiosa pela comida cara que pediu. — Então foi aí que conheceu Lyon?

 — Quase. Nos conhecemos antes, queríamos entrar juntos para os G-Fuel, mas eu não podia continuar trabalhando da forma que eles queriam. Lyon mostrou quem realmente era quando virou as costas e aceitou aquilo tudo. Ele começou a esconder coisas, mudou totalmente e quando precisou escolher... Bem, hoje ele é um G-Fuel, né? Essa é a história.

 — Mas isso vai contra a lógica das amizades que eu aprendi — disse, cruzando os braços. Laxus deu os ombros, agora recebendo sua comida de um robô. — Os G-Fuel são heróis, o que tem de errado em proteger o Arquipélago?

 — Nada. Mas a que custo? Isso te faz passar por cima daqueles que sempre estiveram ao seu lado? — perguntou, deixando o clima tenso. — Anda, vamos comer logo.

    De volta ao Q.G. dos G-Fuel, Lyon aguardava na recepção do consultório. Havia um balcão vazio, provavelmente para um recepcionista que faltou hoje. Ele percebeu quadros com símbolos que não conhecia, mas o que mais se repetia eram as espirais do Olho de Kanaloa.
    A porta da sala do terapeuta se abriu assim que Lyon começou a pensar nos símbolos, como se lesse a mente dele. Um homem com cabelos vermelhos e de terno saiu com uma carta nas mãos. Tinha a expressão cansada.

 — Te vejo na semana que vem! — Lyon escutou a voz do Doutor ao fundo, tão calma que nem viu o paciente anterior saindo do consultório, até esqueceu seu rosto. — Entre, Mr.Lyon!


 — Com licença... — Ele sentou-se numa cadeira de fibra marrom com pequenos rasgos entre os fios. — Dr.Yung Delayed, eu...


 — Calma, calma. Primeiro importe-se com estar o mais confortável possível — disse o terapeuta sem elevar a voz. Seus cabelos esverdeados caíam nas beiras dos óculos de corrente, as escondendo. Ele cruzou as pernas, abaixando uma prancheta e sorrindo. — Pode me chamar só de Doutor, sem muita formalidade aqui.

 — É a minha primeira vez... Você sabe... Numa terapia — disse, olhando para trás da cadeira de Yung, onde haviam mais quadros, vasos de plantas, uma lareira e cortinas com pingentes de gotas de água. Estranhamente confortável e organizado.


 — Que ótimo! Não pense que está doido ou algo assim, terapia é só para ajudá-lo com seus dilemas. Também atendo o Lance como você sabe, ele me contou dos problemas que você está tendo. Mas preciso que me diga que quer ser ajudado para que possamos começar. — Ele sorriu, estendendo a mão. Lyon a olhou antes de apertar, vendo que ele tinha uma tatuagem do Olho de Kanaloa bem na palma.

 — Eu quero. É mesmo para isso que vim aqui. Só não sei por onde começar... 

 — Eu imagino. Apenas relaxe, tudo bem? — Lyon concordou, fechando os olhos e suspirando. Ele começou a ouvir um som calmo, como a melodia de uma flauta bem lenta. Não sabia de onde vinha, mas de alguma forma isso o acalmou um pouco. — Vou começar pelo que sei. Você perdeu sua missão para outro G-Fuel. O que aconteceu para isso ocorrer?


 — Ahn... Eu meio que... Não consegui deixar eles para trás, mesmo que fossem parte da simulação.

 — Eles? Seus amigos, certo?

 — Michiyo e Khoury. Acho que somos amigos, sim. Eu só precisava levar uma caixa até o fim do percurso, mas parei para ajudar durante o caminho. Foi assim que escolhi minhas prioridades e falhei. Lance disse que mudei e que me perdi por estar andando com o Khoury, então quero me encontrar de novo. Esse trabalho é a minha vida!

 — Entendi, entendi... Você está num dilema, Lyon. Há quanto tempo não fazia uma amizade nova?

 — Acho que... Muitos anos? Eu escolhi o meu foco quando entrei para os G-Fuel. Lance está certo mesmo, estou desviando porque me envolvi com Khoury e Michiyo!

 — Mr.Lyon, respire — pediu tranquilamente. Lyon queria gritar mais coisas que estavam em sua cabeça, tremendo os braços na cadeira. Ele inspirou e assoprou, sentindo a mão de Yung na sua.

 — Vejo profundidade nisso. Agora, o que mais tem a dizer? — perguntou, sorrindo. Lyon suou frio, os quadros com espirais ao fundo pareciam estar distorcidos. Ele por mais que tentasse, não conseguiu dizer mais nada pelo resto da sessão.


    Em Technolt, Khoury e Michiyo continuaram comendo no restaurante, Laxus deixou pago e foi cuidar de seus afazeres. Quando voltou ao ginásio, foi recebido por Jolteon e Dedenne, que fizeram festa ao vê-lo. O homem voltou a trabalhar em suas invenções, apertando alguns parafusos enquanto falas antigas de seu pai o menosprezando voltavam na mente. Irritado, deixou o serviço e saiu, deixando seus Pokemon preocupados.
    Pelas ruas de Technolt, Laxus caminhava apressado e resmungando ofensas todas as vezes que via estátuas de seu pai, ou seja, muitas. A tarde já terminava quando ele teve uma ideia. Resolveu ir encontrá-lo e falar tudo que sente.


 — Seu hipócrita... — No Memorial Plateau, Laxus estava diante de uma estátua de seu pai já velho. Foi ali que o enterraram. — Por sua culpa eu não consigo gostar de nada que eu faço! E ainda preciso viver numa lembrança eterna sua, a cidade que construiu! Argh! — Ele chutou a estátua, ofegante.

    Laxus então sentou-se, o frio ficava mais intenso a cada minuto. Ele fechou os olhos e jogou a cabeça para trás. 


 — Agora que você está aí, não adianta mesmo eu ficar te dizendo tudo isso... Eu te odeio por não ter me dado a aprovação para nada que criei até seu último dia. Odeio! Odeio... Odeio precisar de uma aprovação... — Ele levou as mãos até o rosto, forçando-se para não chorar de raiva. Sentindo alguém o abraçar pelas costas, arregalou os olhos e virou o pescoço.


~Duuuus... — Era um Dusclops muito familiar para Laxus, que logo o reconheceu. O parceiro de seu pai que desapareceu quando ele se foi.

 — Você esteve aqui por todo esse tempo? — perguntou, vendo o Pokemon assentir. — É a primeira vez que venho visitar... E... Danke pelo abraço. — Sorriu para Dusclops, que apontou para a estátua.

 — Sabe que eu o amo, meu filho Laxus. Você é a luz. — Laxus ouviu a voz de seu pai vindo da estátua, percebendo que ela estava programada ao repetir o agradecimento e ela dizer o mesmo.

 — Pai... — Interrompendo seu momento, ele espirrou alto. Estava muito frio ali. — Dusclops, pode me ajudar a voltar?

    Confirmando, Dusclops usa Psychic para controlar o corpo de Laxus, fazendo-o voar consigo para Technolt. Os dois sobrevoam a cidade já de noite, perfeitamente visível pela boa iluminação. Laxus perguntou-se de onde vinha aquela luz toda, começando a analisar.



    No topo dos prédios mais altos de Technolt haviam refletores que se interligavam formando uma estrela luminosa. Cada ponta tinha uma cor diferente, assim como...

 — Minha primeira invenção... — Seus olhos brilharam.

    Dusclops continuou levitando Laxus pelo céu, aproximando-o das luzes. Ele notou como a luz da cidade realmente vinha dali, cada prédio ficava numa rua principal e cada uma tinha uma iluminação diferente, todas as noites, bem ali debaixo de seu nariz. Ou em cima... 

 — Eu não acredito nisso... — Sua expressão de surpresa se foi e um grande sorriso preencheu seu rosto. — Eu pensei que ele tivesse jogado o abajur fora, Dusclops. Mas ele... Ele não jogou. Ele o expandiu para iluminar toda a cidade.

"Você é a luz."

    As palavras de seu pai nunca fizeram tanto sentindo quanto agora. A luz de Technolt todas as noites vinha dele. Sempre veio, não de seu pai.

 — Aquele velho desgraçado... Me escondeu até isso! — Em lágrimas e sorrindo, Laxus voltou ao chão com Dusclops, na frente de sua mansão, onde Jolteon estava de guarda. Vikavolt, ao vê-lo, chamou pelos outros Pokemon, que correram e saltaram para cima dele.

 — Hehe! Parem, eu nem demorei!

    Já dentro de casa, agora com Dusclops junto de seus Pokemon, Laxus ouviu a voz de Lyon conversando com Khoury e Michiyo. Respirando fundo, ele foi ao encontro deles.

 — Hey! Se precisarem de algo, chamem! Vou estar trabalhando no meu projeto especial! — Ele referia-se ao seu Pokemon robótico que desenvolvia.


 — É impressão minha ou ele está menos amargurado do que o normal? Acho até que o vi sorrir!

Nunca é tarde... Para ver a luz.

Continua

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Parabéns! Você concluiu uma fileira na Wiki ao desbloquear a página de Dr.Yung!
Além disso, você desbloqueou Technolt City e Memorial Plateau, no menu do Arquipélago Argentia!


4 comentários:

  1. Raihan carinha chato deve ser do mesmo clube do Juca. Então conhecemos a Clair que também é membro da G-Fuel, eu já suspeitava que ela pudesse aparecer onde tem Lance, tem Clair. Pelo visto o Khoury irá ter uma entrevista com a Clair, ou será que é algum plano do Lance, pedindo pra Clair fazer algo que faça Khoury não querer virar G-Fuel ou algo que faça amizade dele com o Lyon, ultimamente eu ando cheio das teorias. E tivemos um foco bem grande sobre a relação do Laxus e do pai dele a cena do Dusclops carregando o Laxus pelo céu foi bem bonita e eu gosto bastante de como você dá atenção a cada personagem mostrando cada personagem tem sua importância e contribuição na história. Gostei e muito do capitulo ansioso pelo próximo ^^ Continuaaa :3

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    1. Bela teoria, Lucas, você pode mesmo estar certo :3 Fico feliz que tenha gostado desse capitulo, foi mais focado em Laxus e Lyon e seus conflitos atuais, a cena do Dusclops pra baixo foi uma das que mais gostei de escrever até o momento, obrigado pelo comentário <3

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    2. Olha só sinal que não estou viajando tanto :P Merece :3

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  2. Break tem um certo dom que me deixa chorando e você ainda coloca see the light para agravar isso... oh Davi :(
    Amei esse capítulo, essa cena do abajour em forma de estrela que o pai usou foi brilhante, me tocou com força, ai amei mesmo...
    Adorei a Clair, ela impõe respeito e botou o Raihan no seu lugar, mas não sei... ela fazendo o teste ao Khoury acho suspeito, não consigo confiar por causa do parentesco dela com o Lance e já se sabe que ele não é o maior fã do Khoury... Laxus sabe de algo que não quer partilhar, ou isso ou apenas está tentando diminuir as espectativas do Khouy para ele não ficar destruido quando descobrir algo obscuro da organização...
    O terapeuta também não me inspira confiança nenhuma e o paciente antes do Lyon parecia... well, vou guardar minhas suspeitas...
    Also os robôs planeando a conquista do mundo são o melhor subplot \o

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