Capítulo 6

    Numa noite em Arctic, como habitual, nevava. Uma criança tremia de frio mesmo vestida de moletom, tendo dificuldades para andar. Era acompanhada por um adulto, este não importando-se com o clima e com os cabelos brancos, embora jovem e musculoso. Seu filho compartilhava do tom pálido de pele e os cabelos sempre espetados para o alto.

 — Papai.. Po-Por que o se-senhor me trouxe aqui? — perguntava entre tremeliques pelo frio, e seu pai não o respondia. O garotinho tropeça e cai de joelhos na neve, ficando assim parado.

 — Levante, garoto. Você não pode ficar parado toda vez que tropeçar. — Seu pai o falou sem oferecer ajuda, e ele levantou-se.

    Voltando a andar, a criança não enxergava no escuro, perdendo seu pai de vista assim que ele passou pelos pinheiros. Sua roupa estava coberta de flocos de neve, e a vontade de chorar quase o consumia.

 — Papai! — gritou, mas não obteve respostas. — Papaaaai!

 — Quieto, está tarde! — A voz de seu pai foi ouvida, e ele encolhe-se. — Qual é o problema?

 — Eu não consigo te ver, papai, estou com medo — admitiu, continuando parado e com frio.

 — Não consegue enxergar? Preste atenção no que acontece ao seu redor e verá.

    Olhando para o céu, o menino não conseguia manter seus olhos abertos por conta da neve, continuando parado.

 — O que eu te disse sobre ficar parado? Não pode!

    Entrando em desespero, o menino tenta relaxar, sentindo sua respiração congelando. Ele então se esforça e consegue notar os olhos azuis brilhantes de um Hoothoot com penas brancas, no topo de um pinheiro. Como se fosse mágica, aquele Pokemon iluminava seu caminho, e ele corre para perto de seu pai.

 — Eu quero que entenda que nem mesmo o frio pode fazer algo com você, porque é capaz de dominá-lo. — Agachado, o pai do menino o falava, olhando nos olhos. — Cuidar de Arctic será sua função... Preciso que esteja pronto, e se não conseguir se adaptar, terá que ser a sua irmã.

    Pai e filho continuam andando para além dos pinheiros, até que ambos veem um Delibird encontrando outro Hoothoot de penas brancas para entregá-lo um presente. Feliz, a coruja partilha uma berry com seu amigo.

 — Os Delibird e os Hoothoot são semelhantes nas características, por isso costumam trocar presentes todas as noites. É dito que essa espécie se popularizou por Blizzfalt após um Delibird convidar seu amigo para cá, consegue acreditar? — perguntou, e o menino notava o brilho no olhar de seu pai, como se também iluminasse seu caminho. — É óbvio que não se pode provar isso, mas essa é a graça de acreditar numa lenda. Perguntas sem respostas... São elas que nos desenvolvem.

 — Papai... Eu não sinto mais frio — falou, e seu pai sorriu, repousando sua mão acima da cabeça dele, tendo quase o mesmo tamanho dela. — Você acha que o Hoothoot que era amigo do Delibird da lenda se aqueceu com o presente que ganhou dele, e por isso decidiu ficar?

 — Pensou nisso sozinho? — riu para o garoto. — É possível... Mas é o sentimento que me move, você está certo. Sempre estará aquecido e nunca irá parar de novo enquanto tiver isso em mente, Lyon.

 — Eu serei um bom guardião de ginásio, não se preocupe, papai! — Motivado, Lyon não resistiu ao sono, deitando a cabeça no ombro de seu pai e dormindo.

 — Será melhor do que eu jamais serei — sussurrou para o garoto antes de pegá-lo no colo.

    Agora, anos depois, Lyon encontrava-se de joelhos na neve, parado vendo o laboratório do Professor Kodai, um cientista residente de Arctic, pegar fogo após o ataque do Raticate dourado. Sentia-se falhado com a cidade, não foi capaz de protegê-la do perigo. Khoury segurava em seu ombro, numa tentativa de mostrar que estava com ele nessa.

 — Lyon! — Um homem ruivo de óculos laranjas e farda policial corre para perto de Khoury e Lyon, deixando um carro de polícia que estacionava. — Viemos o mais rápido que pudemos, mas não conseguimos sair a tempo da delegacia!

 — Como não? — perguntou Khoury, já que Lyon não estava em condições de responder. Beartic e Ninetales aproximavam-se dele, ainda cansados.

 — Alguém invadiu o sistema de segurança da delegacia... As portas não se abriam, as janelas foram bloqueadas e os policiais que estavam nas ruas foram desmaiados! Nunca aconteceu algo assim, e nenhum G-Fuel nos avisou de perigo!

 — Malditos sejam... — Lyon ergueu-se, retirando a neve de sua calça. Glaceon junta-se com as pernas de Khoury, preocupada, e Weavile já acordava. — Vamos prestar depoimentos na delegacia da cidade, Khoury. 

 — Lyon... — Vendo Lyon regressar seus Pokemon, Khoury troca olhares com Glaceon, preocupado.

    E assim, a madrugada prolongou-se, e os dois dormiram na casa do líder de ginásio, só acordando de tarde. Khoury preparava sua tigela de cereais na cozinha, ainda de pijamas, quando a televisão mostrava o noticiário.

 — Foi o segundo ataque de um Pokemon completamente dourado, e as descrições indicam ter sido o Raticate de Acácio, cientista desaparecido no incidente do estádio da Liga Pokemon desse ano. — O repórter usava um paletó largo e surrado, tendo um bigode que cobria sua boca. — O laboratório foi o alvo da explosão, e até agora o corpo de Kodai, que morava lá, não foi encontrado. — A foto do pesquisador era mostrada. — Sou Armando, e agora Cecília falará sobre a previsão do tempo.

 — Acácio e Kodai... Os dois são do comitê científico, então a pessoa por trás dos Pokemon dourados pode ser alguém ligado à ciência, também. — Lyon tentava conectar os pontos, vidrado na televisão. Não havia comido nada até então.

 — Também pode indicar o próximo alvo — complementou Khoury, e Lyon levantou-se, batendo na mesa.

 — Khoury, eu vou precisar partir de Arctic, mas te deixarei responsável pela casa. — Jogou a chave para o menino, que se atrapalha ao pegá-la. — É algo que preciso fazer sozinho, não pode vir comigo dessa vez.

 — Vai investigar a família e os conhecidos desses Professores? Pode acreditar, eu já pesquisei sobre, o Kodai nunca teve pessoas próximas e ninguém sabe um motivo para atacarem o Acácio, ele sempre foi muito tranquilo.

 — Não! — Elevou a voz, cortando Khoury. Lyon suspirou e não o olhou no rosto. — Eu tenho que ir, não me perturbe.

 — Mas Lyon, quanto tempo vai levar? — perguntou, e Lyon deu os ombros, regressando Beartic, que dormia numa pilha de almofadas, para uma Pokeball. — Espera, você já vai?!

 — Até logo — disse, passando pela porta e a fechando, deixando o garoto sozinho a ouvir a previsão do tempo.

    Suspirando, Khoury termina de comer, deixando sua tigela na mesa. Weavile revira o olhos e balança o dedo indicador para seu Treinador, que finge não ver. O Pokemon desliza pelo ladrilho e forma dois degraus de gelo para alcançar a pia e levar a louça da casa.

 — Certo, então nossa suspeita está ligada com o comitê científico... — Ele abriu seu notebook em cima dos joelhos, já sentado no sofá.

    Passadas algumas horas, Weavile continuava lavando a louça, ficando paranoico e decidindo limpar todos os pratos que encontrava nos armários, sempre encontrando mais.

 — Eu tenho uma ideia melhor do que ficarmos esperando o Lyon, Weavile... — Seu tom de voz preocupa o Pokemon, que esfrega um prato com mais velocidade. — Nós iremos para Glacial City hoje!

 — Whea... — Ele não parecia compreender, mas já estava mesmo cansado de lavar louça.

    Após aprontar suas coisas, o menino saía de Arctic, passando pela Rota 3 de noite. Khoury ouvia as reclamações de Weavile por não ter esperado amanhecer, mas o para no meio do caminho.

 — Não é verdade, veja só! — Apontou para o céu, onde os primeiros raios de sol começavam a surgir. — Já é o amanhecer!

 — WEAVILE! — O Pokemon protesta, alegando que mais uma vez ele havia madrugado.

 — Mas não é tão ruim... Eu gosto do sol, experimenta. — Sentando-se na neve, Khoury olhava para o céu com dificuldades pela claridade, mas o tom alaranjado o agradava.

    Decidindo dar uma chance, Weavile segue o exemplo de Khoury, também sentando-se e colocando as mãos nos joelhos. Ele vê o sol nascendo, percebendo nunca ter reparado nisso, assim como diversos Pokemon da rota deixavam suas tocas para contemplarem o momento.

 — Furiiii! — Algumas Butterfree voavam em grupo, dando boas vindas ao novo dia que se iniciava.

 — É, Weavile... Eu realmente gosto do sol! — Abriu os braços, e o Pokemon riu. — Mas agora que está claro, posso ler para você qual é o meu plano. Dessa vez acho que estou no caminho certo!

"Primeiro, nós vamos ter que ir até ao Contest Hall de Glacial City."

 — Veio fazer sua inscrição? — A balconista sorridente pergunta para Khoury, que retribui o sorriso.

"Nós dois participaremos do Contest de hoje, e não se preocupe, sei o básico disso, nós conseguiremos chegar até a final."

 — Whea? — Sem saber do que se tratava, Weavile estava sendo enfeitado para o concurso no camarim. Khoury tenta penteá-lo, mas ele bate em sua mão e pega a escova, fazendo do jeito que queria.

"Contests são..."

 — Bem vindos ao concurso diário de Glacial City! Eu sou Vivian, e hoje teremos um round de apresentações e mais três de batalhas! — A apresentadora de cabelos cacheados fazia seu vestido rosa rodar junto com ela, super animada.

"Bem, Weavile, o primeiro round dos Contests consiste em fazer uma performance no palco, evidenciando o Pokemon do Coordenador com criatividade para abranger todos os atributos avaliados, como carisma, beleza, força, doçura, inteligência..."

 — Use Metal Claw, Weavile! — Khoury arremessava a Pokeball dentro de uma capsula, liberando Weavile entre estrelas coloridas, e ele usa suas garras para parti-las uma por uma, dando uma cambalhota antes de tocar o palco com os pés.

    Na arquibancada do estádio, a plateia gritava por Khoury e Weavile, animados com a entrada. Não era tão comum Coordenadores do arquipélago usarem tão bem efeitos especiais de entrada.

 — Faça um grande sol com Ice Shard! — Juntou as mãos e as afastou, como se formasse o sol.

    Weavile desfilou pelo palco e formou cacos de gelo, os polindo para formarem corações, todos dançando ao seu redor, até que unem-se numa grande bola de gelo. Ele salta para cima dela enquanto a fazia subir pelo palco, como o nascer do sol.

 — E encerre com Dark Pulse! — Khoury levantou seus óculos com os dois dedos antes de cantar o movimento.

    Dramatizando acima do sol de gelo, Weavile pendura-se nele, de olhos fechados. Ao abri-los, estavam escuros, e seu sorriso faz sombras rastejarem e subirem pela bola, derretendo-a e cobrindo o corpo do Pokemon com fluídos de suas duas naturezas, Ice e Dark.

 — E essa foi a apresentação do iniciante Coordenador Khoury! — anunciou Vivian, e o menino recebe mais aplausos. — Mas agora é o momento que todos esperavam! O fabuloso em pessoa! Coordenador Chaz!!

"E por fim, o motivo de nossa participação nesse torneio... O Coordenador Chaz."

 — Nós estávamos procurando por uma mulher porque ouvimos sua voz e vimos suas mãos, por isso chegamos em Satomi. — Nos bastidores, ele fala com Weavile, que assentia com a cabeça. — Mas decidi procurar por um homem, e adivinhe só... Chaz é delicado, e também está ligado ao comitê científico. Só que o mais importante é o estilo dele de apresentar seus Pokemon.

 — Haha!! — O loiro que usava capa e traje cintilante só podia ser Chaz, que via sua Munna levitar pelo estádio, divertindo as pessoas ao espalhar sua névoa rosada, projetando os sonhos delas. — Musha, Thunder Wave!

 — Muuun! — Munna gerava eletricidade no lugar da névoa, dissipando os sonhos e formando correntes elétricas conectadas a ela por todo o estádio.

 — E Dazzling Gleam! Queremos o brilho do ouro! — Ele faz sinal de paz e amor na frente de seus longos óculos, abrindo um sorriso. Possuía um dente de ouro na frente.

    Por estar conectada às correntes elétricas, a Munna chamada Musha reflete seu corpo, deixando sua forma em luz espalhar-se pela eletricidade e projetando sua imagem pelo estádio, o que traz gritos eufóricos para Chaz.

 — Notou, não é? Ele sempre arruma um jeito de fazer algo brilhar em dourado, pode ser um indício! Alguém como ele pensaria numa forma de deixar um Pokemon completamente dourado! — Khoury explicava sua teoria para Weavile, que chegava na conclusão de realmente fazer sentido.

    Após os Coordenadores classificados para continuarem na competição serem revelados, Khoury, como planejado, estava entre eles. Nos Contests do arquipélago só era possível usar dois Pokemon, um para a apresentação e outro para as batalhas, com o objetivo de esgotar os pontos do oponente. O plano de Khoury era simples, chegar até a final com Chaz para conseguir uma conversa posteriormente.

 — E o Coordenador Khoury avança para a final! — anunciava a apresentadora, e Khoury corria para comemorar com seu Quagsire, que não entendia muito bem o que acontecia, pensando ainda estar em batalha. A oponente praguejou antes de retornar sua Vespiquen, saindo do palco.

    Para a batalha final, Khoury mantinha-se no palco, tendo Weavile ao seu lado e Quagsire fora da Pokeball, encarando a Slurpuff de Chaz, Pokemon principal do elenco dele para Contests.

 — Para um iniciante, você é muito bom nisso. Nota-se que se dedicou a aprender noções básicas que outros não têm, mas eu sou experiente, honey! Contemple todo o glamour de Cerise! — Ele estica sua capa ao erguer o braço direito, e a plateia torcia mais ainda por sua Slurpuff Cerise.

 — Quagsire, lembre-se, é só fazer o mesmo das duas últimas batalhas! — gritou Khoury para seu Pokemon, que concorda, mesmo sem lembrar de ter batalhado antes. — Use Mud Shot!

 — Quaaa! — Quagsire iniciou cuspindo bolas de lama para cima de Slurpuff.

 — Mas que repugnante! Cerise, use Cotton Guard, vai! — insinuou estar com nojo, escondendo os olhos com a mão esquerda para não ver.

 — Puff puff! — Slurpuff formou almofadas de algodões no palco, deitando nelas para que a lama passasse por cima e não a sujasse. Ela fazia pose para o público, sensualizando e girando a cereja de sua cabeça. Por conta disso, Khoury perdia pontos.

 — Ele é bom, mas vamos conseguir, Quagsire! — Khoury motivou seu parceiro. — Water Gun!

 — Quaaaaaa! — Abrindo a boca, Quagsire cospe água em espiral contra Slurpuff, que salta, deixando seus algodões encharcarem, igualando os pontos entre Khoury e Chaz.

 — Para cima, Cerise! — gritou, e Slurpuff se impulsionou até Quagsire.

    A Pokemon firma-se na cabeça de Quagsire e começa a sapatear, o deixando desesperado para livrar-se dela, mas seu corpo doce estava bem grudado.

 — É a combinação famosa de Chaz e Cerise, Sweet Panic! — notava Vivian, falando alto no microfone.

 — Você cometeu um erro, atacar na cabeça de Quagsire só o ajudará a se concentrar melhor, é assim que ele funciona — falou, mas Chaz estava longe para escutá-lo. — Use Amnesia!

 — Quaaag? — Acalmando-se, Quagsire esvazia sua mente, esquecendo que Slurpuff estava acima dele.

 — Agora, Quagsire, de cabeça no chão! — O comando não foi questionado por Quagsire, assim como Khoury imaginou, e o Pokemon derruba Slurpuff no chão, caindo por cima dela.

 — Ora! Cerise, é hora de Dazzling Gleam! — Chaz tinha os punhos fechados atrás das costas para esconder o nervosismo.

    Tendo Quagsire sobre seu corpo, Slurpuff abre os braços, projetando-se em luz para cima dele e retomando a posição, mostrando-se para o público e diminuindo mais pontos de Khoury.

 — E Thunder! Brilhe!! — Também abriu os braços, e Khoury notou sua fala, sabendo que era o momento que estava esperando.

    Uma nuvem de algodão rosa se forma acima do palco, carregando-se com faíscas e disparando um raio para trás de Slurpuff, assim dando efeitos especiais para sua performance, como se o brilho da eletricidade fosse dela.

 — O motivo que escolhi Quagsire para essa batalha foi esse! Vá!! — Estendeu o braço, apontando para Slurpuff.

 — Quaaag!!! — Correndo com os braços para trás e inclinado, Quagsire salta para o trovão, roubando-o de Slurpuff. Por ter a tipagem Ground, não sofria danos, apenas conseguindo mais destaque.

 — O quê?! Cerise, não deixe que... — Um beep! o interrompe, e ele nota o tempo de batalha acabar. 

 — Mesmo com a reviravolta de Quagsire, o Coordenador que terminou com mais pontos foi Chaz, por isso a fita vai para Musha, Cerise e ele! — anunciou, e o homem se recompôs, tendo pensando mesmo que perderia.

 — Está ótimo, Quagsire, você deu tudo de si aqui. — Acariciou a cabeça de seu amigo, que também é parabenizado por Weavile.

~Quaaa! — Ele achava que era seu aniversário.

    De volta à sala dos bastidores, Chaz iria trocar suas roupas para as de costume, mas encontra-se com Weavile. Confuso, ele nota estar cercado, tendo Sunflora e Quagsire dos outros lados, e então Khoury surge por trás.

 — Você... — Chaz reconhece Khoury. — O que quer? Nossa batalha foi boa, mas já acabou, eu venci justamente!

 — Não questiono isso, Chaz... Mas você não me engana! Li seu histórico científico — revelou, e viu Chaz arregalar os olhos, começando a suar. — Invenções recusadas com certeza geraram raiva acumulada, não é? Talvez seja o que te motivou a fazer o que fez. E mais, se foram recusadas, foi porque eram perigosas!

 — Do que está falando? — Nervoso, ele recua, mas Weavile o empurra para frente.

 — Você adora fazer seus Pokemon brilharem, literalmente! Com todos esses dados, só pode ser você por trás dos Pokemon dourados que estão perseguindo cientistas! — acusou, apontando para Chaz, que tenta assimilar a informação.

 — Deveria pensar melhor antes de sair acusando os outros, moleque! — Chaz cruzou os braços, e Khoury manteve sua postura. — Não crio Pokemon dourados ou que brilham, eu faço combinações! Minhas invenções recusadas eram relacionadas a isso, pode ler no meu blog. Criei cards de apresentações que projetariam efeitos durante os Contests, aumentando a participação do Coordenador para ser mais um critério julgado, mas infelizmente não foi aceito.

 — Cards... — Ele hesitou, e Chaz suspirou, pegando seu celular e entrando em seu blog. Com uma mão na cintura, ele caminha até Khoury, o entregando o aparelho para ele ler o artigo. — Então você não quer matar ninguém?

 — Meu amor, se eu quisesse matar alguém, pode apostar que seria minha rival desgraçada e a Altaria dela! Não quero nada com essa gente burra que não reconhece verdadeiros talentos! — Chaz imaginava sua rival, com chamas nos olhos só de pensar. — Mas não esse tipo de pessoa, sorry, está enganado!

 — Desculpe, Chaz, não vai se repetir... — Entristecendo-se, ele curvou-se para o Coordenador.

 — Tanto faz, garotinho. A menos que queira me ver trocando de roupa, leve seus Pokemon e vá embora daqui! — Afastou Weavile com as mãos, o que o Pokemon considera rude.

    Envergonhado, Khoury deixa o estádio sem falar nada. Continuava a pesquisar durante o dia, mesmo com o sono atrapalhando, mas não chegava em resultados, até perceber que já havia passado de meia noite de novo.

 — Como eu consigo perder a noção do tempo assim... — murmurou, levando as mãos até o rosto. Estava sentado num banco em Glacial City. — Eu nunca vou conseguir descobrir nada, Lyon estava certo em me deixar de lado nisso... Era óbvio, cuidar da casa foi só a desculpa para eu não atrapalhar mais.

    Como se o ambiente ficasse cinzento, Khoury sente-se mais pálido, recostando suas costas no banco. Weavile, preocupado, o observava ficar mais deprimido a cada instante.
    O olhar caído pelo sono, os cabelos despenteados e as roupas já sujas da longa viagem... Khoury vasculhou seu bolso e retirou um pen drive dele. Era o aparelho onde guardou suas pesquisas, estas que não o levaram a descobrir nada. Ele o arremessou longe, e Weavile se prestou a ir buscá-lo, mas preferiu não o fazer.

 — Whea? — perguntou Weavile após se encorajar, e Khoury o fitou, entendendo perfeitamente.

 — Não, eu não me importo com o que o Lyon acha de mim, eu só quero entrar para os G-Fuel! — resmungou, e bocejou em seguida, deitando-se de lado no banco. — Eu só quero... entrar...

    Não aguentando mais, Khoury adormece. Weavile suspira, observando os balões iluminados no céu, estáticos. Ele abraça seu treinador, também pegando no sono, sem notar uma sombra que ali surgia. Uma luz dourada se acende, e logo desaparece. Sem sinais do pen drive.

Continua

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